sábado, 5 de dezembro de 2015

Antropoceno

"É chegada a hora do fim de tudo
docemente engendrada por cientistas,
políticos e pela fétida burguesia
a cada nova corrida armamentista
nas pacíficas bombas químicas
que despencam impetuosas no oriente

É chegada a derrocada profunda
da natureza exausta e asfixiada
por gigatons de lucrativo carbono
alimento do insaciável desejo
de povos bestificados pela volúpia
hipnotizante prazer de ter sempre
e sempre mais a qualquer custo

É chegada enfim a nuvem tóxica
petrificante, sorrateira, inescapável
a envolver nossos pulmões atrofiados
calando da boca seca o último sussurro

É chegado o mar de lama radioativa
o rompimento da barragem de Mariana
a ausência de culpados pelo extermínio
das vidas perdidas na inundação

Aguardamos pacíficos o grande racionamento
atônitos diante de tratados infinitos
da nova negociação global da existência
que nos salvará da extinção instantânea;
ao menos até a próxima guerra nuclear
para a paz mundial

Blindados pelo frio da natureza transformada
generais desfilarão seus tanques de aço
por praças vazias e deformadas pela solidão;
governantes elaborarão discursos virtuosos
aos insignificantes seres que agonizam;
famílias inteiras, comunidades diversas
erguerão as mãos aos céus em prantos
à esperar em vão o sagrado milagre

Mas ao abrirem suas janelas verão
que é chegado o fim do mundo
o esgotamento de tudo
o ponto transcendental
a tão temida morte
e nada além disso."