quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Amar, verbo transitivo

"Amar
Verbo transitivo direto
Conjugado no coração dos homens
Sem tempo certo
Ou momento adequado
Sinônimo de afeto
Sofrimento
Felicidade

Quem ama, ama a…
Dai a necessidade de um complemento
Dum outro elemento
Sujeito a quem se destina a frase
O poema
De estrofes rimadas
Em versos de alegria pequena

Eu amo,
Tu amas,
Ele ama
Mas sujeito algum amará tão bem
Quanto nós
Ocultos em nosso abrigo secreto
A sós, suspirando em versos indefinidos
Sem métrica alguma
Com pressa nenhuma
Inventando novos significados
Às palavras que bailam indecisas
Apáticas, reumáticas
Sem sentidos

À parte este meu esforço efêmero
Que sei eu desse tal amar
Além de que me colore a face
Dum vermelho cor-de-sangue
E que me rouba o ar dos pulmões

À parte isso
Sinto-me embriagado e ansioso
Somente e tão somente
Por supor uma única
Sempre distante possibilidade
De encontrá-la perdida
Nas ruas dessa cidade
Esquecida
Como se ali sempre estivesse
Com seus belíssimos olhos castanhos
Mirando o horizonte entre as nuvens

Mas eu
Pobre aprendiz de poeta
Aquele que adora falar do amor
Dos verbos,
Do tempo,
Da saudade que ela me trás
Infelizmente
E com muito pesar
Confesso:
Não aprendi a amar."

terça-feira, 12 de novembro de 2013

À uma desconhecida

"Desconheço seus vastos campos
As planícies em seu coração palpitante
E os caminhos que levam a ele

Tudo o que sei
Dela
São versos
Estrofes
Poesia

Tudo o que sei
Dela
São obras do mais íntimo desejo
De sua ânsia pela vida
E mais nada

Não sei de suas dores
Mas é possível que existam
E por vezes a impeçam de dormir
Com o peito inundado
Profanado
Expandido
Através de mil galáxias

Desconheço-a completamente
Sei apenas que existe
Taciturna, fugaz
E em sua alma
Talvez habitem estrelas
De brilho intenso
E hábitos noturnos
Para iluminá-la nas madrugadas de insônia

Sei apenas que de sua pele morena
Emana um doce perfume de flores
Que seu corpo é enfeitado
Com adornos de índia feiticeira
Que tem olhos tão profundos como a noite
E que para chegar até eles
Muitos bravos guerreiros já morreram

À sua prosa dedico as minhas horas
De ócio
De lucidez
E atenção
Envolvido em seu jogo de palavras
Cuidadosamente criado
Como um quebra-cabeça sem fim

Não a conheço,
É verdade
Mas talvez quem sabe
Não seja necessário tanto
Para que o seu encanto aconteça."

Possibilidades

"Mais uma vez o Sol,
A Lua,
O oceano atlântico,
Imensos
Belíssimos como nunca os vi

Os pensamentos tantos,
Todos,
Tortos,
Traídos,
Entorpecidos

Excessivos como tão bem sou
Escondido em mim
Transitório
Deselegante
Distante demais
Cogitando possibilidades
Sempre absurdas
E demasiadamente atraentes."

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Fragmentos

"Escrevo para ela em segredo
Com medo que saibas de mim, 
O outro eu que ama calado
Perseverante, moldando palavras 
Aos limites que o amor encontra
Ao dar-se conta que existe 
E é inevitavelmente verdadeiro
Com suas espessas raízes 
Brotando do coração aos montes
Em estrondoso êxtase 
Até os limites da pele cálida
Ouriçada de prazer intenso
Por sentir em seu interior borbulhante 
Como milhões de balões enlouquecidos
O amor incontido, violento,
Prestes a rompê-la impetuosamente
Rumando em direção a ti, 
Idealizado em fragmentos de poesia esparsa
Entre sinônimos dissimulados 
Em estrofes absurdamente ambíguas
Que me atravessam dissonantes 
Nas indecifráveis marés vindas de longe
Da encruzilhada de terras 
Em que homem algum habitou em vida
Onde a razão encontra o seu oposto
Nessa desmedida emoção 
Que aos poucos me consome."

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Oblíquo

"Enquanto eu me perco em pilhas de papeis inúteis
Do lado de fora de mim o mundo segue vertiginoso
Em seu ritmo incessante de dias, tardes, noites
E madrugadas quietas nas quais permaneço absorto
Cogitando palavras, construindo contextos de alegria ou tristeza
Escamoteando o leve perfume que a noite trás
Em busca de algo indefinido
Algo que eu ainda não conheço bem e sequer sei onde fica
Mas que me falta como a água ao peixe,
Como a selva ao leopardo arisco, bicho-do-mato de ilustre beleza
Enquanto me perco mirabolante nestes tais pensamentos
Nestes momentos de sólida lucidez incontida
Por entre matas virgens e animais misteriosos e faltas irreparáveis
Do lado de fora de mim aumenta a embriaguez do mundo
E tudo parece simples como um passeio no parque
Até mesmo os cinzentos papeis empoeirados,
Esquecidos em pequenos montes se arriscam graciosos
E alvoroçados se põe a bailar pelo escritório vazio
Acompanhando a dissonância em meus versos
Alheios ao tic-tac provocador do relógio entalhado na parede
Cujos ponteiros crescem ameaçadores a cada minuto conquistado
Oblíquos como um olhar cigano de profundidade indecifrável
Prestes a anunciarem o momento da partida."

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Amantes

"Deixa a minha poesia viver
Deixa que o sol ilumine e aqueça
Se esqueça do depois, do não dá
Deixa essa paixão vingar sem medo
Ao som dos versos meus soprando
Nos ouvidos teus, feito brisa do mar
Arrisque um sim só pra variar
E ver o que acontece depois
Pra gente rir de prazer e medo,
Juntinhos numa tarde sépia no parque
Arrisque-se a amar bem cedo
Antes mesmo da manhã raiar
Deixe a canção preencher os espaços
Os vazios do nosso futuro hipotético
No breu do quarto, no calor da cama
Envoltos em fumaça e gozo e cansaço
Deixa eu sentir o teu suor
A tua prova de amor irrefutável
Em meus braços e em minha boca seca
No teu corpo encharcado de carícias breves
Quero viver ali, naquele recorte
De espaço e pele e doçura,
Naquele intervalo de tempo infinito
Em que estivermos juntos
Completos,
Amantes."

Souvenirs (tradução)

"É você que me falta
Sempre, todas as vezes distante
Caminhando muito elegante e altiva
É o perfume de sua vermelha flor
Que atravessa as paredes da casa
E me invade bruscamente na primavera

São todas as canções de amor
Aquelas que eu não posso esquecer
Que me habitam completamente a memória
Fazendo acelerar meu coração muito depressa e feliz

Os dias não são suficientes para imaginar
Ou mesmo para escutar através do silêncio da rua
Onde você tinha o hábito de passar
As palavras fieis, aquelas lá que eu vejo

Elas estão a cada vez mais distantes e descrentes
Longes o suficiente para ter às mãos
Como o sangue, como a prova
Do nosso crime apaixonado

É o meu sorriso que desapareceu na noite
Como as estrelas nas negras nuvens
Quando você partiu ao mundo sem piedade
Sem ao menos me enviar um sinal de adeus

É porque eu escrevo 
As lembranças do passado
As alegrias que nós compartilhamos juntos
E é óbvio que elas estão mortas em nosso interior
Como as flores no jardim abandonado
Mas enquanto eu puder me lembrar
Me recusarei a enterrá-las."