quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Monstro e a memória

"Que as noites mal dormidas me deem forças
E alimentem o meu ódio contra o monstro de mil braços
Escondido em profundezas inatingíveis
Entre pilhas de papeis inúteis, que nada dizem
Letra morta de uma tal democracia utópica
Da qual se alimenta e sobre a qual se ergue
Sustentado por grotescas mentiras
Absurdos de um passado intransponível

Que a cada lacrimejar de olhos exaustos
E por todos os suspiros desesperançosos
Mil vozes se ergam enlouquecidas
Com ódio, apressadas, impiedosas
Que cabeças rolem
E o sangue podre dos injustos tinja as calçadas
Como premonição dos novos tempos
Que mil vozes roucas os aflijam

Façamos com que nos escutem
Trabalhemos para que nos temam
Ao ouvir o soar dos tambores
Cacemos sem trégua o monstro
Que insaciável nos consome
Subjugando a todos os homens
Cego ao nosso clamor desesperado

Que mil noites mal dormidas nos fortaleçam
Se for essa a única saída
Façamos delas nossas armas
A energia vital que nos falta à luta

Flores crescerão nos jardins da velha república
Cheias de ódio, fedendo a enxofre
Árvores darão frutos podres e odiosos também
Não haverá mais amor nem esconderijo possível
Aos que atravessarem o caminho da liberdade

Sobre estes passaremos felizes
Dançando sobre seus cadáveres ridículos
Envoltos em ternos e sapatos importados
Passaremos cantando a doce canção
Que se ouvia nas noites de medo
Do fundo dos velhos bunkers
E seguiremos rumo a um novo tempo
Deixando aos corvos e abutres
A carniça, a vergonha, a escória
A memória que caberá a nós superar."

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