"Mataram outro jovem negro
cuja vida há muito esquecida
sonhava encontrar uma saída
para o desalento e a fome
a solução: um cano frio
apontado contra a existência maldita
de um homem sem nome nem título
cuja sentença fora proferida
há mais de 500 anos
transeuntes desavisados
observavam atordoados a cena
do homem negro sangrando amarrado
filmado por dezenas de lentes sem alma
prontas para reproduzir o horror
de mais um dia comum
nas capas dos diários de hoje
odiosos seres conclamam ultimatos
arguindo a justiça dos fatos
justificando a morte e o ódio
que fermenta na mente do povo
onde estavam os imparciais repórteres
enquanto aquele homem chorava
pelo frio, pela peste e o abandono
quando o esquecimento insistia
em sugar-lhe até o último sentido
de dignidade
onde estava a justiça dos homens
quando não haviam escolas,
quando o dinheiro faltava
para garantir ao homem que hoje sangra
alimento, vestimenta e abrigo
gostaria de saber onde se escondem aqueles
que na hora da morte cruenta
bradam a justiça divina
mas que na hora da dor e do desalento
se abstém de denunciar a desigualdade
certos de sua inocência."
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