"Suas frágeis mãos agora ainda mais magras aparentam qualquer
coisa contrária à vida, à vitalidade com que me recordo vê-la andando pela
casa, a preparar o café da manhã de cereais, café preto e pão francês na
manteiga. Seu lar agora é um leito solitário cercado por aparelhos
amedrontadores, de toda a tecnologia existente e capaz de tornar quase imperceptível a aproximação do fim.
Gotas preguiçosas despencam de uma bolsa transparente,
escorregando vagarosamente por um tubo longo e sinuoso, direto para suas
veias ressequidas, incolores. Sinto pena, e me culpo por isso também. Pergunto-me
por que um ser humano reconhece a humanidade do outro somente pela dor, em vão.
Não tenho resposta, ela não me escuta, desvia os olhos pequenos e sem brilho para o outro lado, distantes da dura realidade de silêncio e espera.
Seus movimentos são agora apenas lembranças em um corpo cujos
músculos retesos não esboçam qualquer tentativa ou frustração. Nenhum lamento
se vê por estar condenada a aceitar a vida como ela se apresenta.
Viro as costas e caminho com os ombros pesados até a porta.
Surpreendo-me com a mente descansada, sem pensamentos, mas um pouco triste. A
morte é mesmo das coisas mais feias que já vi."
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