"Audácia é a definição do que não me convém
É a doce sedução dos teus lábios em movimento retilíneo
Dizendo-me o que devo fazer e ser em seguida,
Profetizando o meu futuro arquitetado a mil dedos
Na escuridão dos teus pensamentos ocultos
Não espere tanto,
Por enquanto ainda sou incapaz de saciar o teu desejo de
posse
A audácia galopante dos teus sentimentos gananciosos
Dos braços que me arrancam o ar dos pulmões a cada abraço
Destes ouvidos atentos e indiscretos que tanto me
constrangem
Confesso que o calor do teu corpo também me acalenta,
Que gosto da maneira violenta com que constrói suas frases
Quando atravessamos os mistérios da noite nos hemisférios
mais distantes
Dos corpos entregues à falsa percepção de eternidade
Prestes a acabar com o próximo raiar do dia se revelando à janela
Mas negarei a facilidade
com que o teu sorriso me convence,
A quase nula falta que me
faz a tua incestuosa presença
Ainda que dela eu seja
refém por capricho ou simples necessidade
Não me convém ser omisso diante da verdade exposta
Não me convém ser omisso diante da verdade exposta
Negarei teus dois olhos negros estáticos frente a mim
O desenho perfeito que delimita a tua existência no universo
A sólida maneira como se desloca de um ponto ao outro
Sempre senhora de si, imponente e majestosa
Audaciosa como este meu desejo de negação
No qual nem mesmo eu acreditarei um dia."