"O livro aberto sobre a mesa à meia luz me distrai o
suficiente, subtraindo o possível sentido das prosas que se multiplicam ao
redor. Escuto tudo como um espectador desinteressado
o faria, mergulhado na imensidão de um romance há muito tempo idealizado por
alguém, muito provavelmente, tão desinteressado quanto eu.
Uma garrafa de cerveja pela metade e apenas um copo. Bebo
sozinho, por sorte. Compartilhar bons momentos é um privilégio raro e talvez por
isso tão saboroso, não me lembro mais quando o fiz pela última vez sem pesar. Atualmente prefiro as vozes indefinidas dos bares e uma boa dose de ficção que
me afaste desta grosseira realidade.
Ao menos aqui posso ser eu, alheio, taciturno, sentado quieto
e livre da cruel necessidade de demonstrar interesse por coisas ou pessoas.
Nada mais me interessa, deixo que olhem e riam da solidão como o fariam ainda que não houvessem motivos, pelo simples gesto de rir e acovardar-se perante o meu silêncio
sincero."
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